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A Memória Humana: Um Labirinto de Verdades e Falsidades

Nos orgulhamos em dizer que somos a espécie mais inteligente do planeta. Nossa espécie consegue se lembrar de fatos e racionalizar sobre eles, utilizando memórias para criar e generalizar conhecimentos em situações futuras. Porém, aqui está um fato curioso: não nos lembramos das experiências como elas realmente foram! Nossa memória é uma habilidosa criadora de falsas lembranças. Parece intrigante, não é mesmo?


A memória é a capacidade do nosso cérebro de registrar, armazenar e evocar informações. Mas, surpreendentemente, ela é mestre em preencher lacunas e criar situações novas para dar sentido às histórias que lembramos. Essas são as chamadas memórias falsas, e elas são mais comuns do que você imagina.


Vários fatores influenciam como fixamos as informações em nossa memória. Quando estamos atentos, somos capazes de reter as informações com maior precisão. Além disso, a intensidade emocional do momento vivido também desempenha um papel importante na formação das lembranças. Você provavelmente se lembra com mais detalhes de um dia emocionalmente intenso do que de um evento sem relevância sentimental.


A repetição e a rememoração são essenciais para a consolidação da memória. Quanto mais revisamos e relembramos um conteúdo, mais forte será a sua fixação em nossa mente. No entanto, há mais uma reviravolta interessante: somos altamente suscetíveis à criação de novas memórias com base em informações que nos são apresentadas.


Um experimento realizado pela psicóloga Julia Shaw em 2015 revelou o quão sugestionáveis somos. Surpreendentemente, 70% dos participantes chegaram a confessar crimes que nunca cometeram! Isso nos alerta para o perigo de confiar cegamente em nossa própria memória e na dos outros. A confiabilidade de provas testemunhais, baseadas apenas na recordação de eventos, tem sido cada vez mais questionada.


A moral dessa história é clara: não devemos confiar cegamente em nós mesmos e nem nos outros quando se trata de memória. Devemos sempre buscar fatos e provas concretas para embasar nossas conclusões. Nossa memória é um labirinto complexo de verdades e falsidades, e cabe a nós navegar por ele com cautela, evitando conclusões precipitadas ou injustas.


Portanto, da próxima vez que você se deparar com uma lembrança vívida, lembre-se de que nem tudo é o que parece. Mantenha uma mente crítica, questione e busque sempre por evidências. Somente assim, poderemos desvendar os mistérios e as nuances da nossa própria memória.


Referências:

ALVES, Cíntia Marques; LOPES, Ederaldo José. Falsas Memórias: questões teórico-metodológicas. Paidéia (Ribeirão Preto), v. 17, n. 36, p. 45-56, 2007.


DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2 ed. Porto Alegre: Artmed editora, 2008.


SHAW, Julia; PORTER, Stephen. Constructing rich false memories of committing crime. Psychological science, v. 26, n. 3, p. 291-301, 2015.



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