
Gostamos de pensar que somos a espécie mais inteligente. No entanto, por que somos tomados por sentimentos tão irracionais, como a ansiedade? Por que vemos perigo e julgamos a realidade de forma distorcida? E por que nossa mente parece determinada a criar cenários desastrosos que nos assombram antes de dormir? Afinal, por que algumas pessoas são mais propensas a experimentar ansiedade do que outras?
Em algum nível, acreditamos que nossas preocupações são importantes e que devemos prestar atenção aos alertas que nossa mente nos envia. Contudo, essa ideia pode ser uma ilusão quando analisada objetivamente. A maior parte de nossas preocupações causa sofrimento desnecessário, tornando a ansiedade apenas um instrumento de inadequação e angústia.
Entretanto, evolutivamente, o medo desempenhou e ainda desempenha um papel crucial em nossa sobrevivência. Em um ambiente primitivo, o medo poderia nos salvar de ameaças hostis, como animais e outros perigosos. Portanto, nossos medos têm uma base evolutiva importante. No entanto, isso não explica por que algumas pessoas desenvolvem ansiedade enquanto outras não. Vamos explorar esse tema.
Para começar, é importante entender o básico: crescemos e nos moldamos em ambientes diferentes. Dizer que nossa ansiedade depende inteiramente de herança genética é tão equivocado quanto afirmar que ela não depende de nada. Uma criança que cresce com pais rígidos, pouco validadores, em um ambiente incerto, inseguro e inconsistente tem mais chances de desenvolver ansiedade do que uma criança criada em um ambiente saudável. Uma criança que aprende desde cedo que a vida e o mundo são perigosos aprenderá respostas ansiosas para sobreviver. Portanto, podemos afirmar que o ambiente e o meio social em que estamos inseridos desempenham um papel tão importante quanto nossa carga genética nos casos de ansiedade.
Em segundo lugar, há o que chamamos de susceptibilidade diferencial. Esse termo, embora possua um nome complexo, refere-se a um conceito simples e intuitivo: pessoas reagem de formas diferentes às mesmas situações. Mesmo que duas crianças estejam no mesmo ambiente, elas podem e irão reagir de formas distintas ao meio. Vocês já ouviram falar da teoria das orquídeas e do dente-de-leão? As orquídeas são plantas extremamente sensíveis ao meio, que precisam de luminosidade, pH do solo, umidade e diversos outros fatores em condições ideais para se desenvolverem. Já o dente-de-leão é uma plantinha muito resistente, que consegue florescer e se desenvolver em qualquer ambiente, inclusive nos mais hostis e condições nada ideais.
Os seres humanos são complexos e, assim como ocorre com as plantas, muitos fatores influenciam os resultados de nossas vidas. Certos aspectos objetivos são imprescindíveis para a saúde mental e uma vida saudável de qualquer pessoa, como segurança financeira e relacionamentos de qualidade. No entanto, são os aspectos mais subjetivos, como traços de personalidade, crenças (visão de si mesmo, do mundo e do futuro) e valores, que dão um toque mais particular à forma como respondemos às diversas situações. É por isso que algumas pessoas, mesmo estando no mesmo ambiente e sob as mesmas condições, reagem de maneiras completamente diferentes. E é também por esses motivos mencionados acima que algumas pessoas desenvolvem ansiedade enquanto outras não.
Referência:
Belsky J, Bakermans-Kranenburg MJ, van IJzendoorn MH. For better and for worse. Differential susceptibility to environmental influences. Curr Dir Psychol Sci. 2007;16:300–304. doi: 10.1111/j.1467-8721.2007.00525.x.
Buschgens, C. J., Van Aken, M. A., Swinkels, S. H., Ormel, J., Verhulst, F. C., & Buitelaar, J. K. (2010). Externalizing behaviors in preadolescents: familial risk to externalizing behaviors and perceived parenting styles. European Child & Adolescent Psychiatry, 19(7), 567-575.
Ellis, B. J., & Boyce, W. T. (2008). Biological sensitivity to context. Current directions in psychological science, 17(3), 183-187.
Leahy, R. L. (2012). Livre de ansiedade. Artmed Editora.
Lionetti, F., Aron, A., Aron, E. N., Burns, G. L., Jagiellowicz, J., & Pluess, M. (2018).
Dandelions, tulips and orchids: Evidence for the existence of low-sensitive, medium-sensitive and high-sensitive individuals. Translational psychiatry, 8(1), 1-11.
Comments