Você já parou para pensar qual é a primeira coisa que faz assim que acorda? Para a maioria das pessoas, é dar uma olhada nas redes sociais, checar e-mails ou ver a agenda do dia. O Brasil é conhecido por ser o país que mais passa horas na internet, com uma média de 9 horas e meia por dia, sendo que um terço desse tempo é dedicado às mídias sociais, de acordo com dados do IBGE.
Nos últimos tempos, com a pandemia, o uso das tecnologias aumentou consideravelmente. A conexão virtual passou a ser usada para estudos, reuniões e até como forma de enfrentar o estresse, sendo encorajada por grandes organizações de saúde, como a OMS.
No entanto, as conversas online não satisfazem completamente nossa necessidade de interação social e vínculo humano. A comunicação pela internet é mais limitada do que a comunicação presencial. Estar em uma chamada de vídeo, lidar com uma conexão instável e perder a linguagem corporal e facial tornam mais difícil compreender a mensagem, exigindo mais energia de nossa parte. Além disso, o aumento de distrações e a necessidade de filtrar informações importantes dificultam a concentração na fala, um fenômeno informalmente conhecido como "fadiga do Zoom" (ou "efeito Zoom"), resultante da exposição prolongada às plataformas digitais.
Outro aspecto importante é que nosso cérebro é programado para interagir presencialmente com outros seres humanos. Ao participarmos de uma chamada virtual, privamos nosso cérebro de algo essencial: o toque. Pesquisas mostram que até mesmo a interação com um simples brinquedo de pelúcia robótico, como uma foca, pode reduzir a percepção da dor e os níveis de ocitocina na saliva.
Além disso, o tipo de conteúdo ao qual somos expostos nas redes sociais pode interferir na nossa saúde mental. Embora a maioria das pessoas passe pelas mídias sociais sem efeitos prejudiciais a longo prazo, é comum se aborrecer com conteúdos irritantes, assim como com pessoas inconvenientes que não respeitam filas. No entanto, o problema vai além disso. O uso prolongado da internet geralmente está associado a fatores desfavoráveis, como o sedentarismo. Em outro exemplo, pessoas com problemas de autoestima pré-existentes podem ser mais afetadas pela "Teoria da Comparação Social", sofrendo com referências de perfeição presentes nas mídias sociais.
Então, o que podemos fazer para reduzir os efeitos negativos das redes sociais?
1. Filtre o conteúdo: você não precisa ter acesso a conteúdos que lhe fazem mal. Os algoritmos das redes sociais são projetados para mostrar temas prováveis de seu interesse. Se você está recebendo muito conteúdo desconfortável, é provável que esteja clicando em links e matérias relacionadas a isso.
2. Reduza o tédio: passar tempo excessivo nas redes sociais pode causar angústia. Busque receber conselhos práticos sobre técnicas de enfrentamento e gerenciamento do estresse.
3. Melhore a comunicação: procure se comunicar com pessoas queridas de seu círculo social, compartilhando experiências semelhantes e criando um sentimento de pertencimento e compreensão.
Lembre-se de que tudo aquilo com que nos envolvemos nos afeta de alguma forma, podendo ser benéfico para algumas pessoas e prejudicial para outras. Portanto, não se sinta culpado se está se sentindo irritado e exausto devido às interações virtuais. Como acontece com a maioria das coisas, é importante usar as redes sociais com moderação e não substituir atividades saudáveis, como praticar esportes, dormir bem e investir em relacionamentos interpessoais de qualidade.
Referências
Bekalu, M. A., McCloud, R. F., & Viswanath, K. (2019). Association of social media use with social well-being, positive mental health, and self-rated health: disentangling routine use from emotional connection to use. Health Education & Behavior, 46(2_suppl), 69S-80S.
Frison, E., Eggermont, S. (2015). Toward an integrated and differential approach to the relationships between loneliness, different types of Facebook use, and adolescents’ depressed mood. Communication Research. Advance online publication. doi:10.1177/0093650215617506
Nadler, R. (2020). Understanding “Zoom fatigue”: Theorizing spatial dynamics as third skins in computer-mediated communication. Computers and Composition, 58, 102613.
We are Social. Global Digital 2019 Reports. Available from: https://wearesocial.com/global-digital-report-2019.
WHO. Mental health and psychosocial considerations during COVID-19 outbreak. March, 2020.
Comments